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Villas Boas

Sentido! Ainda a militarização de escolas públicas do DF

Sentido!

Ainda a militarização de escolas públicas do DF

Benigna Villas Boas

Hoje, 12/03/2019, faz um mês da implantação da militarização de escolas públicas do DF e muitas dúvidas, incompreensões e controvérsias persistem. O Bom Dia DF de hoje dedicou um bom tempo a este tema. O que mais me chamou a atenção foi a declaração do Sub-Secretário de Educação, segundo o qual a falta de professores será suprida por militares. Aliás, cabe esclarecer que ele não estava à vontade para dar informações, estava até titubeante. Parecia não entender bem o que essa iniciativa significa. Equipes do governo estão usando o precioso tempo de aprendizagens dos estudantes das escolas públicas para ensaiar uma sistemática com vistas a moldar o seu comportamento. As imagens do programam mostram isso. Preencher o tempo de aulas por militares, quando faltam professores, é um descaso e um descompromisso com as aprendizagens dos estudantes das escolas públicas. Continue a ler »Sentido! Ainda a militarização de escolas públicas do DF

AVALIAÇÃO FORMATIVA: EM TODAS AS ESCOLAS?

 

AVALIAÇÃO FORMATIVA: EM TODAS AS ESCOLAS?

Leda Regina Bitencourt da Silva

 

O Brasil já ultrapassou a etapa que discute o direito à educação dentro do cárcere. Está agora no estágio em que deve analisar as suas práticas e experiências, procurando instituir programas, consolidar e avaliar propostas e políticas. Precisamos buscar possíveis e novos caminhos para o plano institucional que abriga homens e mulheres em situação de privação de liberdade em prol da implementação de políticas públicas voltadas para oferta educacional de qualidade no Sistema Penitenciário. (SAUER; JULIÃO, 2012, p.4)

O Distrito Federal tem reiteradamente colocado em seus documentos que a avaliação formativa é a que orienta suas práticas em todas as unidades escolares.Continue a ler »AVALIAÇÃO FORMATIVA: EM TODAS AS ESCOLAS?

Materiais didáticos padronizados e provas unificadas transformarão a vida dos estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal?

Materiais didáticos padronizados e provas unificadas transformarão a vida dos estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal?

Prof.ª Dr.ª Elisângela Gomes Dias

 

Em entrevista recente à Agência Brasília, o secretário de Educação do DF, Rafael Parente, anuncia sua proposta de “humanizar a gestão das escolas públicas”. Entre os projetos considerados como “inovadores” está a “elaboração de materiais didáticos próprios, elaborados por professores da rede pública do DF, a criação de bimestrais unificadas e a elaboração de atividades comuns de reforço pedagógico”.

Como é possível perceber, a qualidade do ensino agora vem atrelada com à promessa da inovação, mas a estratégia recorre à antiga máxima: para maior qualidade, padronização e mais exames, o que significa maior responsabilização da escola e dos/as professores/as. Trata-se de uma lógica confusa de um sistema globalmente deficiente, o qual sequestra a avaliação como o amuleto capaz de resolver a crise que abate a educação. A elaboração de material didático e atividades comuns de reforço escolar são tomadas como proposta milagrosa frente aos baixos índices de proficiência revelados pelo IDEB.Continue a ler »Materiais didáticos padronizados e provas unificadas transformarão a vida dos estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal?

Boaventura de Sousa Santos: “Se o Escola sem Partido tiver futuro, o Brasil não tem futuro”

“O Escola sem partido é um atentado contra a democracia”

JC Notícias – 21/02/2019

Boaventura de Sousa Santos: “Se o Escola sem Partido tiver futuro, o Brasil não tem futuro”

“O que é trágico nesse momento do País é que as fábricas do ódio, do medo e da mentira estão se transformando nas políticas públicas de educação”, opina o sociólogo português em entrevista ao jornal A Tarde

Boaventura de Sousa Santos é um intelectual, cientista social, escritor e, sobretudo, educador português. Por isso, olha com preocupação para os caminhos que o atual Ministério da Educação (MEC) tem traçado para o Brasil. “O que é trágico nesse momento do país é que as fábricas do ódio, do medo e da mentira estão se transformando nas políticas públicas de educação”, opina ele. Mesmo que de longe, lá de Portugal, onde dirige o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e dá aula na Faculdade de Economia – que, inclusive, ajudou a fundar em 1973 – Boaventura tem um olhar especial sobre o Brasil. A tese de doutorado dele, Direito dos Oprimidos (Editora Almedina, 2014), defendida na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, é uma análise da vida na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, escrita em plena Ditadura Militar brasileira. Na época, diz ele no livro, por medo de expor aqueles que o acolheram tão bem, batizou o estudo de Pasárgada, aquele poema de Manuel Bandeira. Mesmo que, por aqui, não fosse amigo de rei algum. Hoje, além de Coimbra, ele pesquisa na  Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, e é Global Legal Scholar na Universidade de Warwick, na Inglaterra. Também dirige o projeto ALICE – Espelhos estranhos, lições imprevistas: definindo para a Europa um novo modo de partilhar as experiências o mundo, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação. Conversamos com ele na 11ª Bienal da União Nacional dos Estudantes, onde falou sobre o que mais gosta: educação, inclusão e justiça social. A cada passo que dava, brotavam dez estudantes que pediam uma palavra, um abraço, uma foto. Também participou de um tour na Ilha de Maré, sobre a qual, em 2018, escreveu um artigo em denúncia à poluição na área. À coluna Muito, falou sobre o futuro da ciência, da educação e das nossas heranças coloniais. Um futuro que, esperemos, não demore de chegar.

O senhor defende em um discurso sobre as ciências que a ciência e seus métodos  que vêm regulando a sociedade há séculos estão em crise. Por quê?

Fundamentalmente, a crise é também uma oportunidade para a ciência, e consiste basicamente na ideia de que a ciência é um conhecimento válido, mas não é o único conhecimento válido na sociedade. A ciência não pode ter a pretensão de avaliar a validade de outros conhecimentos porque há conhecimentos espirituais, populares, dos povos indígenas, das populações ribeirinhas, que têm outros critérios de validade dos seus conhecimentos. Portanto, há vários critérios de validade, e a ciência, hoje, tem que conviver com isso. Para mim, a evolução desse discurso, que já é de um livro antigo, foi tentar mostrar que o que nós precisamos no mundo e nas universidades é de uma ecologia do saber, é a convivência entre os diferentes conhecimentos, nos quais o conhecimento científico é fundamental, mas não é o único.

É isso o que o senhor quer dizer quando fala que a ciência atual é uma narrativa?

Sim, é a ideia de que não há verdade na ciência, a rigor. Se houvesse verdade, era eterna e para sempre. O que há é a busca da verdade. Nós, os  cientistas sociais, os cientistas em geral, temos essa grande missão de mostrar a verdade. Todo o nosso trabalho é um trabalho objetivo, e essa é a busca da verdade. Ser objetivo não quer dizer que sejamos neutros. Sabemos que há injustiças na sociedade, e a nossa ciência visa contribuir para a justiça social, para a democracia, para o bem-estar dos povos. Portanto, objetividade não quer dizer neutralidade.

Há como a ciência tradicional sair dessa crise ou é um processo natural e irreversível?

Não, há muitos cientistas que continuam – e também depende muito das disciplinas – a defender o que nós designamos por positivismo. E é exatamente essa ideia de que só há uma maneira correta de fazer ciência e que a ciência é o único conhecimento válido. Nem uma coisa nem outra são verdadeiras hoje, de fato. Grandes cientistas mulheres, quando as mulheres entraram na ciência, e com muita força, sobretudo nos últimos 40 anos, mostraram que havia diferentes meios de fazer ciência. Até na biologia, por exemplo, nas ciências da evolução. E, como digo, há vários conhecimentos que têm seus critérios de validade.

Confira a entrevista na íntegra: A Tarde

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AVALIAÇÃO E MILITARISMO ESCOLAR: caminho para a passividade, o conformismo e a subserviência

AVALIAÇÃO E MILITARISMO ESCOLAR:

caminho para a passividade, o conformismo e a subserviência

Enílvia Rocha Morato Soares

            O noticiário de hoje, dia 11/02/2019, esteve repleto de notícias que tratam do novo modelo “cívico-militar” adotado para as escolas públicas do DF, ou seja, da militarização dessas instituições. Trata-se de um projeto que prevê a participação da Secretaria de Segurança Pública, por intermédio da PMDF, na gestão administrativa e disciplinar de quatro unidades públicas de ensino. Esses profissionais se encarregarão das atividades burocráticas e de segurança, tais como controle de entrada e saída, horários, filas, além de ministrarem aulas de musicalização, ética e cidadania no contraturno.Continue a ler »AVALIAÇÃO E MILITARISMO ESCOLAR: caminho para a passividade, o conformismo e a subserviência

Pesquisa mostra redução de desigualdades no ensino superior no Brasil

JC Notícias – 01/02/2019

Pesquisa mostra redução de desigualdades no ensino superior no Brasil

Estudo foi elaborado pelo Centro Brasileiro de Pesquisas em Democracia da PUCRS

Nas últimas duas décadas, o Brasil apresentou um novo ciclo de expansão da rede de ensino superior, além de iniciativas e políticas públicas visando a redução das desigualdades de acesso. A taxa líquida de matrículas neste nível de ensino, que, em 1995, era de 5,8%, em 2015, chegou a 18,1%. Segundo o estudo, a origem social dos jovens, apesar de ainda exercer forte efeito sobre as chances de ingresso no ensino superior no país, teve sua relevância reduzida nas últimas décadas. Estes são uns dos apontamentos desenvolvidos por pesquisadores do Centro Brasileiro de Pesquisas em Democracia (CBPD-PUCRS), coordenado pelo professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade, André Salata. O estudo completo, que foi realizado em parceria com a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), pode ser visto neste link, além do material de divulgação.

A pesquisa teve como objetivo analisar o processo de expansão e, também, da ação de políticas públicas para identificar uma redução das desigualdades de acesso ao ensino superior no país. Especificamente, estudou os efeitos da classe de origem sobre as chances de acesso a este nível de ensino, assim como sobre a qualidade deste acesso, se por meio da rede pública ou privada, nos últimos anos. Para isso, foram utilizados dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD-IBGE) para os anos de 1995, 2005 e 2015, que foram analisados por meio modelos estatísticos multivariados.

Conforme aponta a pesquisa, tomando como referência o período 1995 a 2015, os pesquisadores verificaram que a expansão foi acompanhada da democratização do acesso, sendo que a principal barreira ainda se encontra na conclusão dos níveis precedentes de ensino. “Houve uma acentuada redução do efeito de classe sobre a chance de alcançar o ensino superior, que parece estar mais atrelada à democratização do aceso aos níveis anteriores de ensino do que ao ensino superior em si mesmo. À diminuição das desigualdades de acesso, se contrapõe uma possível elevação das desigualdades horizontais dentro do próprio ensino superior, em especial no que se refere à segmentação entre instituições públicas e privadas”, frisa Salata.

Qualificação e mercado de trabalho

O ingresso e conclusão do ensino superior se consolidou, nas últimas décadas, como um dos principais meios os quais os estratos mais elevados da sociedade brasileira garantem o acesso, ao indivíduo e aos seus filhos, às posições sociais mais valorizadas e bem remuneradas.

“O prêmio obtido no mercado de trabalho por aqueles que possuem ensino superior completo se mostra de grande magnitude, e presta importante contribuição para a explicação das enormes desigualdades de rendimento no país. Assim, conseguir ou não ter acesso ao ensino superior é, no Brasil, um elemento marcante no processo de reprodução das desigualdades”, destaca o professor.

Forma de análise da pesquisa

O estudo selecionou apenas jovens entre 18 a 24 anos (idade esperada parar cursar o ensino Superior) e relacionou, por meio de modelos estatísticos, a origem social dos jovens com as chances de acesso ao Ensino Superior. A origem social dos mesmos foi mensurada considerando as informações ocupacionais do chefe do domicílio onde residia, classificada em categorias acesso ao ensino superior. Estas foram separadas por: Proprietários empregadores, administradores e profissionais de nível superior (Profissionais, Administradores e Gerentes e Proprietários Empregadores); Empregadores e Trabalhadores (Empregados não-manuais de rotina, Trabalhadores conta-própria, Manuais Qualificados e Manuais Não-Qualificados) e Rurais (Empregadores e Trabalhadores).

Chances de acesso ao estudo

Para facilitar a leitura dos resultados obtidos por meio dos modelos estatísticos, os pesquisadores elaboraram comparações de casos hipotéticos.

Rodrigo e Pedro são dois jovens, ambos têm idade entre 18 e 24 anos, moram na mesma região geográfica, em uma cidade com porte similar e em famílias com estrutura semelhante. Enquanto Rodrigo é filho de profissionais, Pedro é filho de trabalhadores manuais. Confira os resultados:

Em 1995, Rodrigo teria chances 35 vezes maiores que as de Pedro de ter acessado o ensino superior.

Se Rodrigo e Pedro tivessem nascido dez anos mais tarde, no ano de 2005, quando estivesse naquela mesma faixa etária (18 a 24 anos) Rodrigo teria chances 19 vezes maiores que as de Pedro de ter acessado o ensino superior.

Caso Rodrigo e Pedro tivessem nascido vinte anos mais tarde, no ano de 2015, quando estivesse naquela mesma faixa etária (18 a 24 anos) Rodrigo teria chances nove vezes maiores que as de Pedro de ter acessado o ensino superior.

Redução das desigualdades

Ana e Marcela são duas jovens com idades entre 18 e 24 anos, moram na mesma região geográfica, em uma cidade com porte similar e em famílias com estrutura semelhante. Ambas concluíram o ensino médio. Ana é filha de Proprietários Empregadores, Marcela é filha de Trabalhadores Manuais Não Qualificados. Como tanto Ana quanto Marcela concluíram o ensino médio, tratamos aqui somente da barreira que separa o ensino médio do superior. Veja:

Em 1995, Ana teria chances seis vezes maiores que as de Marcela de ter acessado o ensino Superior.

Caso Ana e Marcela tivessem nascido dez anos mais tarde, no ano de 2005, quando estivesse naquela mesma faixa etária (18 a 24 anos) Ana teria chances oito vezes maiores que as de Marcela de ter acessado o ensino superior.

Se Ana e Marcela tivessem nascido vinte anos mais tarde, no ano de 2015, quando estivesse naquela mesma faixa etária Ana teria chances quatro vezes maiores que as de Marcela de ter acessado o ensino superior.

Barreira que separa o ensino médio do superior

No caso de Paulo e Gustavo, ambos têm idade entre 18 e 24 anos, moram na mesma região geográfica, em uma cidade com porte similar e em famílias com estrutura semelhante. Ambos ingressaram no ensino superior. Confira:

Rodrigo e Pedro são dois jovens, ambos têm idade entre 18 e 24 anos, moram na mesma região geográfica, em uma cidade com porte similar e em famílias com estrutura semelhante. Enquanto Rodrigo é filho de profissionais, Pedro é filho de trabalhadores manuais. Confira os resultados:

Se Paulo e Gustavo tivessem nascido dez anos mais tarde, no ano de 2015, quando estivesse naquela mesma faixa etária (18 a 24 anos) Paulo teria chances 88% maiores que as de Gustavo de ter acessado o ensino Superior em uma Instituição Pública (em vez de privada).

Conclusões gerais

“Seja considerando especificamente a passagem do ensino médio ao superior na última década, ou então a relação não condicional entre origem social e ingresso no ensino superior, podemos afirmar que a sociedade brasileira se tornou mais fluída e democrática”, enfatiza Salata. Ainda, segundo o professor, é preciso considerar que o peso da origem social sobre as chances de os jovens ingressarem no ensino superior (condicional ou não à conclusão do ensino médio) ainda é muito marcante. Jovens provenientes de famílias de classes mais altas, com maior acúmulo de capital econômico e, principalmente, cultural, ainda hoje possuem chances muito mais altas de atingir aquele nível de ensino do que jovens de classes trabalhadoras.

Portanto, os resultados alcançados tornam evidente um cenário onde padrões positivos e negativos se entrelaçam. Os efeitos ainda muito relevantes e agudos da origem social para o acesso ao ensino superior – condicional ou não à conclusão do ensino médio -, foram reduzidos nos últimos anos. Entretanto, é possível que essas desigualdades verticais venham a somar-se, cada vez mais, desigualdades horizontais dentro do sistema de ensino, sobre o tipo ou a qualidade daquele acesso. “Não obstante, em relação ao acesso ao ensino superior, a sociedade brasileira de hoje se mostra mais democrática e aberta que aquela de duas décadas atrás, apesar das enormes desigualdades que ainda persistem”, ressalva.

 

Ascom – PUCRS

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