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Villas Boas

“O que prova que a organização em ciclos é melhor que seriação e não significa apenas diminuir os números de reprovação no sexto e no oitavo anos?”

“O que prova que a organização em ciclos é melhor que seriação e não significa apenas diminuir os números de reprovação no sexto e no oitavo anos?”

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

A pergunta acima foi feita por uma professora da rede pública de ensino do DF, muito comprometida com o trabalho que desenvolve. Como o DF mantém a organização da escolaridade em ciclos há algum tempo e suas escolas receberam documentos orientadores da sua implementação, fui consultá-los para entender a razão da pergunta da professora. Não encontrei a resposta para sua dúvida. Fiquei preocupada. Ela deveria constar das orientações. Tento aqui refletir sobre o tema.  Continue a ler »“O que prova que a organização em ciclos é melhor que seriação e não significa apenas diminuir os números de reprovação no sexto e no oitavo anos?”

O que prova que a organização em ciclos é melhor que seriação e não significa apenas diminuir os números de reprovação no sexto e no oitavo anos?

“O que prova que a organização em ciclos é melhor que seriação e não significa apenas diminuir os números de reprovação no sexto e no oitavo anos?”

Maria Susley Pereira

Pesquisadora do GEPA

A pergunta acima foi feita por uma professora da rede pública de ensino do DF muito comprometida com as aprendizagens dos estudantes. Este breve texto procura respondê-la.

Em primeiro lugar devo dizer que responder a esta pergunta em poucas linhas não é uma tarefa simples, pois falar sobre educação não nos permite discuti-la como uma ciência exata e, sendo assim, seria conversa “pra mais de metro”.

Sabemos que a reprovação e o abandono escolar são situações com as quais a educação brasileira convive há muito tempo e estão presentes desde os primeiros anos de escolaridade dos estudantes. No entanto, muito além desses dois efetivos problemas, enfrentamos um ainda mais complexo: muitos alunos seguem sua trajetória escolar com resultados inexpressivos em suas aprendizagens, resultando no que se tem chamado de “fracasso escolar”, mas que é possível ser denominado de um “fracasso da escola”, que produz a exclusão dentro dela mesma quando permite que o aluno ali permaneça sem aprender, inclusive contribuindo para o crescimento do fenômeno da defasagem série/idade.Continue a ler »O que prova que a organização em ciclos é melhor que seriação e não significa apenas diminuir os números de reprovação no sexto e no oitavo anos?

SBPC divulga manifesto em defesa da educação, da ciência e da democracia

JC Notícias – 30/03/2019

SBPC divulga manifesto em defesa da educação, da ciência e da democracia

O documento foi produzido por ocasião da Reunião Regional da SBPC em Sobral, no Ceará, com apoio de pesquisadores, professores, estudantes, Prefeitura e instituições públicas do município

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulga neste sábado, 30 de março, a “CARTA DE SOBRAL”, conclamando a comunidade científica, acadêmica e escolar, sociedade civil, lideranças políticas e parlamentares a atuarem vigorosamente contra os retrocessos que ameaçam a educação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a democracia no País.

O documento foi produzido por ocasião da Reunião Regional da SBPC em Sobral, no Ceará, realizada nesta semana, entre 27 e 30 de março, evento que reuniu mais de 3 mil pessoas. O texto tem apoio de pesquisadores, professores, estudantes e Prefeitura e instituições públicas do município.

“Queremos que todos os cidadãos, em especial as crianças e os jovens, tenham garantidos seus direitos educacionais e sociais. Motivos justos para comemorações intensas pelo conjunto dos brasileiros, nos próximos anos e décadas, serão a superação do analfabetismo e da miséria, o avanço significativo na educação, na ciência e na tecnologia, uma melhor qualidade de vida para todos, a redução das desigualdades, a preservação do meio ambiente e de nossas riquezas naturais, que estão em causa neste momento, e o desenvolvimento sustentável do País”, afirma o manifesto.

Leia abaixo a carta na íntegra:

CARTA DE SOBRAL

Sob o Sol de Sobral: por uma educação básica de qualidade, pela ciência e pela democracia

O problema imaginado por minha mente foi solucionado pelo céu luminoso do Brasil

[Albert Einstein, 1925]

A SBPC e os participantes de sua Reunião Regional, realizada em Sobral entre os dias 27 e 30 de março, se manifestam firme e decididamente em defesa da educação pública de qualidade, da ciência e da democracia no País.

Comemoramos neste ano o centenário do eclipse solar de 1919, cujas observações, feitas em Sobral, foram decisivas para a confirmação da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, que alterou profundamente a ciência e a nossa visão do Universo. Deste município do Ceará, Terra da Luz – primeiro estado brasileiro a abolir a escravidão –, vem, ainda, o exemplo notável de melhoria significativa no desempenho dos estudantes das escolas básicas, um processo que foi construído a partir de políticas públicas continuadas e que priorizaram a educação. Outros exemplos similares, e exitosos, provêm de diversos municípios brasileiros. Um desafio grande é estendê-los para abarcar todo o País.

A valorização efetiva do professor e sua formação adequada são fatores essenciais para a melhoria da educação básica. Outros fatores importantes são condições de trabalho adequadas, boa gestão escolar, avaliações criteriosas e mobilização da comunidade local em prol da educação. O ensino de ciências é fundamental para a formação de um cidadão no mundo contemporâneo. No momento em que ganham proeminência ideias obscurantistas e correntes anticientíficas, é essencial destacar a importância decisiva do conhecimento científico para as tomadas de decisão individuais e coletivas, para a gestão pública e para o desenvolvimento social e econômico do País.

O papel do Estado é essencial para a garantia dos direitos sociais dos brasileiros. A vinculação orçamentária de recursos para a educação e saúde foi uma importante conquista da Constituição de 1988, e a desvinculação desse orçamento, como anunciada recentemente, é uma ameaça muito grave e terá consequências catastróficas para a educação, a saúde e a qualidade de vida da imensa maioria dos brasileiros. Conclamamos todos os brasileiros a se unirem em um movimento amplo em defesa da educação pública de qualidade, laica, que respeite a diversidade e assegure direitos e oportunidades iguais para todas as crianças e jovens. O destino do povo brasileiro deve estar acima dos interesses financeiros ou de setores privilegiados da sociedade.

Por outro lado, os drásticos cortes realizados recentemente no orçamento de Ciência, Tecnologia e Inovação (da ordem de 40%), que já estava em nível muito baixo, colocam o Brasil na contramão da história. Os países desenvolvidos investem de maneira ainda mais acentuada em CT&I em momentos de crise econômica. Pesquisas demonstram que o investimento em ciência tem repercussão social significativa e retorno econômico grande. É inaceitável que sejam feitos novos cortes em um orçamento já tão reduzido. As consequências afetarão toda a estrutura de pesquisa no País e, ainda, os setores empresariais que buscam promover a inovação. Eles comprometem o funcionamento do sistema nacional de CT&I, construído ao longo de décadas, dificultam a recuperação econômica e certamente irão afetar seriamente a qualidade de vida da população brasileira e a soberania do País.

Recursos para educação e para ciência e tecnologia não são gastos, são investimentos do presente em um futuro melhor para o País!

A SBPC, ao longo de sua história, juntamente com muitas outras entidades científicas acadêmicas e da sociedade civil, se destacou por sua luta pela educação, pela ciência e pela democracia no Brasil. Atuamos contra as práticas autoritárias de um regime ditatorial, em defesa das liberdades democráticas, pela redemocratização do País e pela construção da Constituição de 1988 que incorporou os direitos da cidadania. Neste momento crítico da vida nacional, reafirmamos a importância do livre pensar e da democracia em sua plenitude. Não aceitaremos o retorno do cerceamento às liberdades democráticas, da censura, das perseguições políticas, da ausência da liberdade de expressão, que são direitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU.

Queremos que todos os cidadãos, em especial as crianças e os jovens, tenham garantidos seus direitos educacionais e sociais. Motivos justos para comemorações intensas pelo conjunto dos brasileiros, nos próximos anos e décadas, serão a superação do analfabetismo e da miséria, o avanço significativo na educação, na ciência e na tecnologia, uma melhor qualidade de vida para todos, a redução das desigualdades, a preservação do meio ambiente e de nossas riquezas naturais, que estão em causa neste momento, e o desenvolvimento sustentável do País.

É essencial, neste momento, uma atuação vigorosa e permanente da comunidade científica, acadêmica e educacional como um todo, por meio de suas entidades e instituições de pesquisa. É necessária uma mobilização mais intensa dos pesquisadores, professores e estudantes, das entidades científicas e das instituições de ensino e pesquisa brasileiras, em conjunto com outros setores da sociedade civil, lideranças políticas e parlamentares, para exercerem uma pressão social legítima, que poderá ser determinante para a reversão do atual quadro de retrocessos no apoio à educação e à ciência e tecnologia e de ameaças à democracia no País.

Que o Sol luminoso do Brasil inspire e motive a todos nós na resolução dos problemas do País.

Sobral, 30 de março de 2019

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Escola: caminho para a libertação ou para a prisão?

Escola: caminho para a libertação ou para a prisão?

Enílvia Rocha Morato Soares

Ao defender o projeto de militarização das escolas do Distrito Federal, o secretário adjunto da Secretaria de Estado de Educação do DF alegou, em entrevista ao Bom dia DF do dia 12 de março, que a disciplina dos estudantes assegurada pelos policiais resultaria em maior tempo de aula e, em decorrência, melhoraria a qualidade do trabalho desenvolvido pelos professores.

O entrevistado não explicou, nesse momento, o conceito de “qualidade” a que estava se referindo. Se considerarmos, no entanto, que um dos critérios adotados pela SEEDF para definição das quatro escolas que implantariam inicialmente o projeto foi a nota do IDEB, pode-se pressupor que a qualidade destacada pelo secretário está fortemente associada aos resultados obtidos nos exames externos. Freitas (2009, p. 66) desmistifica esse raciocínio ao explicar que “o desempenho de uma escola implica ter alguma familiaridade e proximidade com o seu dia-a-dia o que não é possível para os sistemas de avaliação em larga escala realizados pela federação ou pelos estados, distantes da escola”.Continue a ler »Escola: caminho para a libertação ou para a prisão?

País mantém desde 2011 diferença de aprendizagem entre ricos e pobres

Dados sobre o desempenho dos estudantes brasileiros estão disponíveis. Em vez de analisá-los e tomar providências para que todos os estudantes aprendam, o MEC cria uma comissão para censurar os itens de provas do ENEM. Lamentável.

JC Notícias – 21/03/2019

País mantém desde 2011 diferença de aprendizagem entre ricos e pobres

Disparidade chega a ser de cinco vezes, segundo nível socioeconômico

No Brasil, enquanto 83% dos estudantes mais ricos saem da escola pública tendo aprendido o adequado em língua portuguesa ao final do ensino médio, entre os estudantes mais pobres, essa porcentagem é 17%. Em matemática, 63,6% dos alunos mais ricos aprenderam o adequado e apenas 3,1% dos mais pobres saem da escola sabendo o mínimo considerado suficiente na disciplina. Os dados são do Todos pela Educação (TPE), organização social, sem fins lucrativos.

A entidade analisou os microdados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017 e mostrou que há diferença grande e constante, desde 2011, entre o desempenho dos mais ricos e dos mais pobres em todos os níveis analisados, no 5º e no 9º ano do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio. A disparidade entre as porcentagens de estudantes que aprendem o adequado chega a ser quase cinco vezes maior entre aqueles com maior nível socioeconômico e os com menor nível.

“A educação, que poderia ser uma das principais ferramentas para diminuir a desigualdade de aprendizagem não tem conseguido fazer isso de maneira consistente no Brasil”, diz o diretor de Políticas Educacionais do TPE, Olavo Nogueira Filho. “A gente está avançando na média brasileira, mas está mantendo um alto grau de desigualdade entre alunos de nível socioeconômico mais alto e mais baixo. Estamos melhorando sem conseguir diminuir esse resultado entre mais ricos e mais pobres”, avalia.

O Saeb avalia estudantes quanto aos conhecimentos de língua portuguesa e matemática e é aplicado de dois em dois anos. A avaliação é de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que classifica os estudantes em seis grupos, considerando o nível socioeconômico.

O grupo 1 reúne os estudantes com o menor poder aquisitivo. São, em maior parte, estudantes com renda familiar mensal de até um salário mínimo e que têm, em casa, bens elementares, como uma geladeira e uma televisão, sem máquina de lavar roupa ou computador. Os pais ou responsáveis têm formação até o 5º ano do ensino fundamental ou inferior.

Na outra ponta, está o grupo 6, com estudantes com renda familiar mensal de sete salários mínimos ou mais, cujos pais ou responsáveis completaram a faculdade e que tem em casa três ou mais televisores, dois ou mais computadores, entre outros bens.

A diferença é constatada desde o 5º ano do ensino fundamental, quando 90,4% dos mais ricos aprendem o adequado em língua portuguesa e 83,9%, em matemática e apenas 26,3% dos mais pobres aprendem o adequado em português e 18,1%, em matemática.

De acordo com Nogueira Filho, a escola pública não está cumprindo um de seus principais potenciais: reduzir desigualdades. “Para fazer isso, é preciso ter uma política educacional que se preocupe com essa questão. Uma política educacional que se traduza em mais recursos para quem tem maior desafio”, defende.

De acordo com o diretor, ocorre o contrário no país. “Os municípios mais vulneráveis, em geral, são os que têm menor investimento por aluno quando comparados com regiões de nível socioeconômico mais elevado”.

Aprendizagem adequada

De acordo com o levantamento do TPE, em média, considerando juntos todos os níveis socioeconômicos, houve melhora na aprendizagem no país, no ensino fundamental. No ensino médio, há praticamente estagnação desde 2001.

O maior salto foi no 5º ano do ensino fundamental. Em 2001, 23,7% dos estudantes aprendiam o adequado em língua portuguesa e 14,9%, em matemática. Essas porcentagens chegaram a 60,7% e a 48,9%, respectivamente, em 2017.

No final do ensino médio, em 2001, 25,8% dos jovens deixavam a escola sabendo o mínimo adequado em português e 11,6%, em matemática. Em 2017, essas porcentagens passaram para 29,1% em língua portuguesa e reduziram para 9,1% em matemática.

O TPE considera como aprendizagem adequada estudantes que obtiveram pelo menos, em língua portuguesa, 200 pontos no 5º ano do ensino fundamental, 275 no 9º ano e 300 no final do ensino médio. Em matemática, é necessário tirar pelo menos 225 pontos no 5º ano, 300 pontos no 9º ano e 350 pontos no 3º ano do ensino médio.

As pontuações foram definidas por um conjunto de especialistas que buscou como referência, inclusive, o desempenho de estudantes de nível semelhante em outros países.

Seguindo os níveis propostos pelo Inep, essas pontuações significam que os estudantes devem estar pelo menos no nível 5 de 10 níveis em matemática e no nível 4 de 9 níveis em língua portuguesa, no 5º ano; no nível 4 de 8 níveis em português e 5 de 9 níveis em matemática, no 9º ano; e no 6 de 10 em matemática e nível 4 de 8 níveis em língua portuguesa, no 3º ano do ensino médio.

Ministério da Educação

No ano passado, o Ministério da Educação divulgou, pela primeira vez, o nível que considera adequado para cada etapa. Os níveis considerados são mais rígidos do que os definidos pelo Todos pela Educação, considerando adequado apenas o nível 7 em ambas as disciplinas. A métrica foi questionada por especialistas.

Pelo critério do MEC, apenas 1,62% dos estudantes obteve o mínimo adequado em língua portuguesa ao final do ensino médio e 4,52%, o mínimo em matemática, em 2017.

Agência Brasil

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Sentido! Ainda a militarização de escolas públicas do DF

Sentido!

Ainda a militarização de escolas públicas do DF

Benigna Villas Boas

Hoje, 12/03/2019, faz um mês da implantação da militarização de escolas públicas do DF e muitas dúvidas, incompreensões e controvérsias persistem. O Bom Dia DF de hoje dedicou um bom tempo a este tema. O que mais me chamou a atenção foi a declaração do Sub-Secretário de Educação, segundo o qual a falta de professores será suprida por militares. Aliás, cabe esclarecer que ele não estava à vontade para dar informações, estava até titubeante. Parecia não entender bem o que essa iniciativa significa. Equipes do governo estão usando o precioso tempo de aprendizagens dos estudantes das escolas públicas para ensaiar uma sistemática com vistas a moldar o seu comportamento. As imagens do programam mostram isso. Preencher o tempo de aulas por militares, quando faltam professores, é um descaso e um descompromisso com as aprendizagens dos estudantes das escolas públicas. Continue a ler »Sentido! Ainda a militarização de escolas públicas do DF

AVALIAÇÃO FORMATIVA: EM TODAS AS ESCOLAS?

 

AVALIAÇÃO FORMATIVA: EM TODAS AS ESCOLAS?

Leda Regina Bitencourt da Silva

 

O Brasil já ultrapassou a etapa que discute o direito à educação dentro do cárcere. Está agora no estágio em que deve analisar as suas práticas e experiências, procurando instituir programas, consolidar e avaliar propostas e políticas. Precisamos buscar possíveis e novos caminhos para o plano institucional que abriga homens e mulheres em situação de privação de liberdade em prol da implementação de políticas públicas voltadas para oferta educacional de qualidade no Sistema Penitenciário. (SAUER; JULIÃO, 2012, p.4)

O Distrito Federal tem reiteradamente colocado em seus documentos que a avaliação formativa é a que orienta suas práticas em todas as unidades escolares.Continue a ler »AVALIAÇÃO FORMATIVA: EM TODAS AS ESCOLAS?

Materiais didáticos padronizados e provas unificadas transformarão a vida dos estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal?

Materiais didáticos padronizados e provas unificadas transformarão a vida dos estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal?

Prof.ª Dr.ª Elisângela Gomes Dias

 

Em entrevista recente à Agência Brasília, o secretário de Educação do DF, Rafael Parente, anuncia sua proposta de “humanizar a gestão das escolas públicas”. Entre os projetos considerados como “inovadores” está a “elaboração de materiais didáticos próprios, elaborados por professores da rede pública do DF, a criação de bimestrais unificadas e a elaboração de atividades comuns de reforço pedagógico”.

Como é possível perceber, a qualidade do ensino agora vem atrelada com à promessa da inovação, mas a estratégia recorre à antiga máxima: para maior qualidade, padronização e mais exames, o que significa maior responsabilização da escola e dos/as professores/as. Trata-se de uma lógica confusa de um sistema globalmente deficiente, o qual sequestra a avaliação como o amuleto capaz de resolver a crise que abate a educação. A elaboração de material didático e atividades comuns de reforço escolar são tomadas como proposta milagrosa frente aos baixos índices de proficiência revelados pelo IDEB.Continue a ler »Materiais didáticos padronizados e provas unificadas transformarão a vida dos estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal?

Boaventura de Sousa Santos: “Se o Escola sem Partido tiver futuro, o Brasil não tem futuro”

“O Escola sem partido é um atentado contra a democracia”

JC Notícias – 21/02/2019

Boaventura de Sousa Santos: “Se o Escola sem Partido tiver futuro, o Brasil não tem futuro”

“O que é trágico nesse momento do País é que as fábricas do ódio, do medo e da mentira estão se transformando nas políticas públicas de educação”, opina o sociólogo português em entrevista ao jornal A Tarde

Boaventura de Sousa Santos é um intelectual, cientista social, escritor e, sobretudo, educador português. Por isso, olha com preocupação para os caminhos que o atual Ministério da Educação (MEC) tem traçado para o Brasil. “O que é trágico nesse momento do país é que as fábricas do ódio, do medo e da mentira estão se transformando nas políticas públicas de educação”, opina ele. Mesmo que de longe, lá de Portugal, onde dirige o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e dá aula na Faculdade de Economia – que, inclusive, ajudou a fundar em 1973 – Boaventura tem um olhar especial sobre o Brasil. A tese de doutorado dele, Direito dos Oprimidos (Editora Almedina, 2014), defendida na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, é uma análise da vida na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, escrita em plena Ditadura Militar brasileira. Na época, diz ele no livro, por medo de expor aqueles que o acolheram tão bem, batizou o estudo de Pasárgada, aquele poema de Manuel Bandeira. Mesmo que, por aqui, não fosse amigo de rei algum. Hoje, além de Coimbra, ele pesquisa na  Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, e é Global Legal Scholar na Universidade de Warwick, na Inglaterra. Também dirige o projeto ALICE – Espelhos estranhos, lições imprevistas: definindo para a Europa um novo modo de partilhar as experiências o mundo, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação. Conversamos com ele na 11ª Bienal da União Nacional dos Estudantes, onde falou sobre o que mais gosta: educação, inclusão e justiça social. A cada passo que dava, brotavam dez estudantes que pediam uma palavra, um abraço, uma foto. Também participou de um tour na Ilha de Maré, sobre a qual, em 2018, escreveu um artigo em denúncia à poluição na área. À coluna Muito, falou sobre o futuro da ciência, da educação e das nossas heranças coloniais. Um futuro que, esperemos, não demore de chegar.

O senhor defende em um discurso sobre as ciências que a ciência e seus métodos  que vêm regulando a sociedade há séculos estão em crise. Por quê?

Fundamentalmente, a crise é também uma oportunidade para a ciência, e consiste basicamente na ideia de que a ciência é um conhecimento válido, mas não é o único conhecimento válido na sociedade. A ciência não pode ter a pretensão de avaliar a validade de outros conhecimentos porque há conhecimentos espirituais, populares, dos povos indígenas, das populações ribeirinhas, que têm outros critérios de validade dos seus conhecimentos. Portanto, há vários critérios de validade, e a ciência, hoje, tem que conviver com isso. Para mim, a evolução desse discurso, que já é de um livro antigo, foi tentar mostrar que o que nós precisamos no mundo e nas universidades é de uma ecologia do saber, é a convivência entre os diferentes conhecimentos, nos quais o conhecimento científico é fundamental, mas não é o único.

É isso o que o senhor quer dizer quando fala que a ciência atual é uma narrativa?

Sim, é a ideia de que não há verdade na ciência, a rigor. Se houvesse verdade, era eterna e para sempre. O que há é a busca da verdade. Nós, os  cientistas sociais, os cientistas em geral, temos essa grande missão de mostrar a verdade. Todo o nosso trabalho é um trabalho objetivo, e essa é a busca da verdade. Ser objetivo não quer dizer que sejamos neutros. Sabemos que há injustiças na sociedade, e a nossa ciência visa contribuir para a justiça social, para a democracia, para o bem-estar dos povos. Portanto, objetividade não quer dizer neutralidade.

Há como a ciência tradicional sair dessa crise ou é um processo natural e irreversível?

Não, há muitos cientistas que continuam – e também depende muito das disciplinas – a defender o que nós designamos por positivismo. E é exatamente essa ideia de que só há uma maneira correta de fazer ciência e que a ciência é o único conhecimento válido. Nem uma coisa nem outra são verdadeiras hoje, de fato. Grandes cientistas mulheres, quando as mulheres entraram na ciência, e com muita força, sobretudo nos últimos 40 anos, mostraram que havia diferentes meios de fazer ciência. Até na biologia, por exemplo, nas ciências da evolução. E, como digo, há vários conhecimentos que têm seus critérios de validade.

Confira a entrevista na íntegra: A Tarde

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AVALIAÇÃO E MILITARISMO ESCOLAR: caminho para a passividade, o conformismo e a subserviência

AVALIAÇÃO E MILITARISMO ESCOLAR:

caminho para a passividade, o conformismo e a subserviência

Enílvia Rocha Morato Soares

            O noticiário de hoje, dia 11/02/2019, esteve repleto de notícias que tratam do novo modelo “cívico-militar” adotado para as escolas públicas do DF, ou seja, da militarização dessas instituições. Trata-se de um projeto que prevê a participação da Secretaria de Segurança Pública, por intermédio da PMDF, na gestão administrativa e disciplinar de quatro unidades públicas de ensino. Esses profissionais se encarregarão das atividades burocráticas e de segurança, tais como controle de entrada e saída, horários, filas, além de ministrarem aulas de musicalização, ética e cidadania no contraturno.Continue a ler »AVALIAÇÃO E MILITARISMO ESCOLAR: caminho para a passividade, o conformismo e a subserviência