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Villas Boas

OS DESAFIOS DO PNE

Os desafios do PNE para 2015

Correio Braziliense

13 de fevereiro de 2015

“É imprescindível que os gestores e toda a sociedade tenham a Educação, efetivamente, como prioridade absoluta, e que sejam feitos os investimentos necessários”, afirma Alejandra Meraz Velasco

O Plano Nacional de Educação, sancionado pela Presidência da República, em junho de 2014, tem vigência de 10 anos, o que pode parecer prazo razoável para colocar em prática medidas que permitam alcançar as metas. Porém, há muito a fazer desde já, pois existem metas e estratégias que têm como prazo 2015.

Para começar, estados e municípios devem elaborar ou adequar os planos de Educação locais à luz de diretrizes, metas e estratégias previstas no PNE até junho, um ano após a sanção do plano. A formulação dos planos municipais e estaduais deve envolver não apenas o Poder Executivo, mas também a comunidade Escolar de forma mais ampla, em um processo participativo, que culmina na aprovação pelo Legislativo e a volta para sanção pelo Executivo.

A meta que trata do Analfabetismo prevê que a taxa de Alfabetização da população com 15 anos ou mais atinja 93,5% neste ano. Isso significa aumentar a taxa de jovens e adultos alfabetizados em dois pontos percentuais, retomando o crescimento do indicador, praticamente estagnado desde 2011.Continue a ler »OS DESAFIOS DO PNE

DESMISTIFICANDO RANKINGS INTERNACIONAIS

Desmistificando rankings internacionais

Publicado em 07/02/2015 por Luiz Carlos de Freitas no blog do Freitas

Um novo estudo divulgado em Janeiro de 2015 analisa os rankings do PISA e em especial a posição americana neste exame. Importante destacar neste estudo os limites que são encontrados no modelo de avaliação do PISA e que afetam todos os países participantes do mesmo. Valem para nós.

Contrariamente ao que se vê em outros países, alguns intelectuais brasileiros ainda têm complexo de inferioridade e sentem dificuldade para questionar resultados da OCDE: acreditam que os resultados da OCDE sejam uma referência segura e acham mesmo que eles são apenas “mensageiros dos nossos problemas” não devendo ser questionados.

Abaixo segue uma listagem de 10 destes problemas na visão de James Harvey no blog de Valerie Strauss. Em tempos de aumento dos amores do MEC pelas avaliações, é bom termos presentes tais limites, os quais são ocultados para alimentar um permanente ataque à educação pública.

O relatório teve por base o estudo de James Harvey, o qual resumiu seus achados para o blog de Valerie Strauss. Entre os limites apontados destaco:Continue a ler »DESMISTIFICANDO RANKINGS INTERNACIONAIS

PBL PILOT: MATCHING PBL WITH TRADITIONAL GRADING

PBL Pilot: Matching PBL With Traditional Grading

January 5, 2015

EDUTOPIA (http://www.edutopia.org)

Matt Weyers

follow:

https://www.twitter.com/@mr_weyers

 

Photo credit: Matt Weyers

Editor’s Note: Matt Weyers and co-author Jen Dole, teachers at Byron Middle School in Byron, Minnesota, present the fifth installment in a year-long series documenting their experience of launching a PBL pilot program.

Project-based learning has been wonderful. Students are self-reporting how they’re experiencing a deeper level of learning, and parents are saying that their children are actively (and often voluntarily) elaborating on their learning outside of school. We firmly believe that PBL is one of the best teaching methodologies available for the 21st century.

 

The opportunities to assess students on the 4 Cs (creativity, collaboration, communication, and critical thinking) have been endless. Blending all of this into the traditional A-F grading system, however, has on occasion felt like pounding a square peg into a round hole. At this point in the school year, we feel that standards-based grading would be the best and most opportune solution to grading in a PBL environment. We feel fortunate, though, to have the administrative support we need for tackling these challenges. In this post, we’d like to look at some of our challenges, working solutions, and further questions to consider.Continue a ler »PBL PILOT: MATCHING PBL WITH TRADITIONAL GRADING

INTERNATIONAL TEST SCORES PREDICT NOTHING

Diane Ravitch Become a fan

Research Professor of Education, New York University; Author, ‘Reign of Error’

 

International Test Scores Predict Nothing

Posted: 12/31/1969 7:00 pm EST Updated: 10/24/2013 8:31 am EDT

Uh-oh! Another study has appeared warning that we are falling behind other nations on international standardized tests.

The National Assessment Governing Board released the results of a study comparing the performance of U.S. states to nations that participated in the 2011 TIMSS.

Students in most U.S. states were above the international average but the nations known for their test-taking culture dominated the results. That is, the top performing nations were Singapore, Korea, Chinese Taipei, and Japan.

The usual hand-wringers were wringing their hands about how awful we were, how terribly we compare to those at the top.

The reporters from the New York Times and the Washington Post tried to reach me but I was at an all-day event in Vermont-New Hampshire and did not see their messages.

If I had responded, I would have said this: International test scores do not predict the economic future. Once a nation is above a basic threshold of literacy, the numbers reflect how good that nation is at test-taking. They are meaningless as economic predictors.Continue a ler »INTERNATIONAL TEST SCORES PREDICT NOTHING

MILAGRE PERNAMBUCANO: MAIS COMENTÁRIOS DE QUEM VIU

Milagre pernambucano: mais comentários de quem viu

Publicado em 15/01/2015 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas

Um leitor envia o seguinte comentário:

“Prof. Freitas, a sua hipótese para a evasão da EJA [em Pernambuco] está corretíssima. O governo começou no primeiro mandato Campos com a correção de fluxo através do programa Travessia, da Fundação Roberto Marinho. Paralelo ao projeto, que tinha como principal chamariz o término do ensino médio em metade do tempo, 1 ano e meio.

No segundo governo, ele também reduziu o EJA MÉDIO, ou seja, a EJA regular, para metade do tempo e diminuiu bastante as turmas de travessia. Com isso, os alunos com “perfil problemático” para os resultados, os fora de faixa, os alunos trabalhadores, foram sendo canalizados para o projeto e depois para o EJA da própria rede que se tornou uma máquina de emitir certificação de conclusão.

Para se ter uma ideia, foi estabelecido que o aluno que já tivesse cursado o ensino médio regular (1 ano) podia se matricular direto no 3º ano da EJA. Quer dizer, e a questão do currículo? e o que o aluno deveria aprender do programa do 2º ano e que não estudou no primeiro regular, para onde foi? não importa.Continue a ler »MILAGRE PERNAMBUCANO: MAIS COMENTÁRIOS DE QUEM VIU

PROFESSORES E AS SUPER ESTRELAS

Opinião: Professores e as superestrelas

09 de janeiro de 2015

“Todas as semanas os alunos das escolas públicas da América Latina e do Caribe perdem o equivalente a um dia completo de aula por causa do absenteísmo, da baixa qualificação e do nível salarial dos docentes”, afirma Jorge Familiar

Fonte: Valor Econômico (SP)

Para a América Latina, 2014 não foi um ano tão positivo quanto imaginávamos. Cultivávamos a expectativa de que um país latino-americano ganhasse a Copa do Mundo, trazendo novamente o troféu para as Américas. E falando sobre tema mais sério, também tínhamos a esperança de que o crescimento econômico da região mantivesse um ritmo constante, embora mais lento. No entanto, de acordo com os mais recentes prognósticos, a região poderá crescer apenas 1% este ano. Levando em conta o aumento populacional, isso significa que a renda média per capita dos latino-americanos não progrediu nos últimos 12 meses.

O crescimento não chegará com facilidade. Uma expansão promovida por matérias-primas, como a que a América Latina apresentou na última década, dificilmente se repetirá, considerando a menor demanda mundial por seus produtos, em particular da China. E como se isso não bastasse, o custo para financiar o desenvolvimento vai provavelmente aumentar nos próximos anos, à medida que a política monetária dos Estados Unidos muda a sua orientação. As históricas conquistas sociais obtidas pela região nos últimos dez anos correm perigo. A América Latina terá que depender de seus próprios recursos se quiser retornar ao caminho do crescimento com a equidade que possibilitou esses avanços.

Relatório do Banco Mundial mostra que todas as semanas os Alunos das Escolas públicas da América Latina e do Caribe perdem o equivalente a um dia inteiro de aula por causa do absenteísmo, da baixa qualificação e do nível salarial dos Docentes.Continue a ler »PROFESSORES E AS SUPER ESTRELAS

CRÍTICA AO REGIME DE RESPONSABILIZAÇÃO

Acredite se quiser…

Publicado em 20/12/2014 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas

As alternativas para não entrarmos no desastre educacional americano estão disponíveis. Hoje em todas as vertentes de avaliação encontramos críticos da situação americana – até mesmo os amantes da accountability pensam em fazer algo mais light no Brasil – alguns pelo menos. O que eles não consideram é que ninguém controla o mercado. Só o próprio mercado. E quem comanda a abordagem americana é o mercado educacional apoiado no mercado empresarial. Não há versão light para o mercado, há apenas o lucro. Aquele país tem hoje muito claro o que deve fazer para apagar a amarga experiência da accountability baseada em testes padronizados. Abaixo o caminho é apontado por um grupo de professores.

Do Blog de Diane Ravitch

A sabedoria dos professores: uma nova visão da accountability

Qualquer um que critique o actual regime de responsabilização baseado em teste é inevitavelmente questionado: Pelo que você o substituiria? A responsabilização com base em testes falha porque está baseada na falta de confiança nos profissionais. Ele falha porque confunde a medição com instrução. Nenhum médico diz a um paciente doente, “Vá para casa, tome a sua temperatura de hora em hora, e me chame daqui um mês.” A medição não é um tratamento ou uma cura. É medição. Não fechar as lacunas: mede-as.Continue a ler »CRÍTICA AO REGIME DE RESPONSABILIZAÇÃO

INGLATERRA, USA, SÃO PAULO: MESMA POLÍTICA, MESMOS RESULTADOS

Inglaterra, USA, São Paulo: mesma política, mesmos resultados

Publicado em 10/12/2014 por Luiz Carlos de Freitas no blog do Freitas

Mergulhada em políticas de reformas empresariais na educação, a Inglaterra amarga consequências que aparecem no recente lançado relatório dos Inspetores de Escolas. O Chefe dos Inspetores deu a seguinte entrevista ao The Guardian:

“O chefe dos inspetores de escolas, alertou que bons professores estão em falta nas áreas de maior necessidade e revelou detalhes do fracasso crescente das escolas secundárias na Inglaterra, com dezenas de milhares de alunos frequentando escolas consideradas inadequadas.

Ao lancar seu relatório anual, Michael Wilshaw disse que o país deve ficar preocupado com a crescente divisão entre as escolas primárias e secundárias.Continue a ler »INGLATERRA, USA, SÃO PAULO: MESMA POLÍTICA, MESMOS RESULTADOS

DEAR TEACHER, YOU ARE NOT THE MOST IMPORTANT THING IN THE WORLD

Education in Two Worlds

Dear Teacher, You Are Not the Most Important Thing in the Universe

Posted: 02 Dec 2014 11:53 AM PST

The Arizona Republic has a very conservative Editorial Board for a very conservative newspaper in a very conservative state. So when they address the subject of teacher preparation, it’s no surprise that they parrot folk wisdom about schools and teachers.

In addressing Arne Duncan’s new guidelines on teachers colleges, the Editorial Board strikes its closing notes by perpetrating one of the more pernicious myths about teachers and schools.

Plenty of research has come to a common-sense conclusion: Nothing is more important to the success of a student than a highly qualified teacher. But we don’t have enough of them, nor will we as long as teacher colleges are not held accountable.

Now that’s a statement that packs a big load of deceit into just 43 words. First, it’s highly doubtful that the Arizona Republic Editorial Board has made itself familiar with “plenty of research” about education. Second, in their review of “plenty of research,” apparently their faith in the ability of test scores to hold teachers colleges “accountable” was never shaken?* But worst of all is the repeat of that tired wheeze that nothing is more important than a teacher.

What makes the All-Important-Teacher myth so pernicious is that teachers themselves occasionally and the general public usually take it as a compliment when in fact it is an attack on teacher tenure and professional autonomy.

The facts of the matter are that teachers are not the most important thing determining what a child gets out of school. What a child brings to school is much more important. Jim Coleman showed this in 1966 in Equality of Educational Opportunity, and though he softened his position slightly in 1972 when he accorded a bit more important to schooling that he had 6 years prior, out-of-school influences remained dominant in determining how much kids learned during their years in school. Parents, home and neighborhood conditions, physical health, language use and language complexity in the home, whether the student lives in a psychologically and physically healthy environment with access to competent medical care, access to books, games and activities that prepare the student for school, and even genetic endowment can greatly contribute to or restrict a child’s development. What walks in the door on Day #1 has more to do with what leaves on Day #2340 (180 X 13) than what transpires during the few hours of students’ lives that they are in the classroom, attentive, and capable of absorbing what that teacher is talking about.

Teachers are wonderful human beings. For many children, teachers are the most caring and competent individual whom they will encounter during their lifetime. But teachers cannot undo the damage inflicted on youngsters by a society in which nearly half of all births are to unwed mothers and in which more than 20% of children live below the poverty level (income below $23,000 for a family of 4).

So, my fellow teachers, beware. Don’t fall for the false compliment that you are so important — so important that you should be fired if your students’ test scores are lagging behind, so important that your school’s graduation rate is a moral and a civil rights issue, so important that you should be replaced by an inexperienced liberal arts major on a two-year resume building junket.

*Just take a look at Bruce Baker’s analysis of the absurdity of judging teachers by their students’ test scores.

Gene V Glass Arizona State University National Education Policy Center University of Colorado Boulder

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Gene V Glass: Education in Two Worlds: Dear Teacher, You Are Not the Most Important Thing… http://t.co/wsiklz08xt

54% DOS JOVENS CONCLUEM O ENSINO MÉDIO ANTES DOS 19 ANOS

Educação

 

 

08 de dezembro de 2014 • 07h40

Em 2013, 54,3% concluem ensino médio até os 19 anos

Apesar do índice baixo, ele vem apresentando melhora ao longo dos anos

 

Levantamento divulgado hoje (8) pelo movimento Todos pela Educação mostra que, em 2013, apenas 54,3% dos jovens brasileiros conseguiram concluir o ensino médio até os 19 anos. O indicador foi calculado com base nos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2013. O índice, no entanto, vem apresentando melhora ao longo dos anos. Em 2007, 46,6% dos jovens concluíram o ensino médio até os 19 anos. Em 2009, foram 51,6% e, em 2012, 53%.

Uma das metas propostas pelo Todos pela Educação para que se garanta educação de qualidade é que até 2022 pelo menos 90% dos jovens concluam o ensino médio até os 19 anos.

A coordenadora-geral do movimento, Alejandra Meraz Velasco, diz que os dados mostram que as melhorias feitas no ensino fundamental não se traduziram em melhoria automática no ensino médio. Ela defende a reformulação do ensino médio, de forma a tornar essa etapa mais atrativa aos jovens.Continue a ler »54% DOS JOVENS CONCLUEM O ENSINO MÉDIO ANTES DOS 19 ANOS

A AVALIAÇÃO E O USO DA AVALIAÇÃO

A avaliação e o uso da avaliação

Uma das discussões que ocorrem na área da avaliação de larga escala diz respeito ao desenho desta avaliação. Há países bem sucedidos no PISA que adotam avaliação em larga escala amostral e há outros que adotam avaliação de larga escala censitária (todas as escolas e alunos são avaliados).

Em geral adotam avaliação censitária países comprometidos com a teoria da responsabilização, ou seja, que querem identificar o aluno, o professor e a escola para poder estabelecer algum tipo de responsabilização (leia-se algum tipo de contingência) que leve, em sua visão, estes atores a melhorarem. Sua filosofia educacional baseia-se no entendimento de que a escola vai mal porque os professores e gestores não realizam seu trabalho adequadamente. Daí o controle.

Este é o problema: a teoria que informa a avaliação em larga escala. E não a existência da avaliação em larga escala, a qual se for feita de forma amostral cumpre sua função de orientar política pública tanto quanto a censitária.

Para quem quer uma alternativa, mesmo usando larga escala, aí há uma: avaliação de larga escala amostral. Neste tipo de avaliação o real objetivo dela fica preservado, ou seja, apoiar a política pública. Impedem-se no entanto pressões sobre a escola, o que não deve fazer parte do objetivo em si de uma avaliação, pois diz respeito aos usos dos resultados da avaliação.

Para nós, que não somos contra avaliação, esta é uma alternativa plausível. Receio no entanto que os reformadores empresariais não vão concordar com a proposta. O fato é que escondem seu objetivo de responsabilização e controle no discurso da avaliação.

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ENEM EM DEBATE

ENEM em debate

Toda vez que os reformadores falam em melhorar uma de suas ideias é preocupante. Não raramente, o que para eles é uma melhoria, para nós é um aprofundamento de decisões sem respaldo nas tendências das pesquisas. Isso advém do fato de que os reformadores têm duas crenças: uma na avaliação, em si, não importa do que; e outra no progresso da tecnologia. Assim, qualquer erro de concepção, dificuldade de implementação, efeito colateral etc. é tratado como uma questão de melhorar a técnica usada. A velha crença acrítica no progresso da ciência que confunde objetividade com neutralidade.

Na verdade, há outras crenças, mas abordar todas seria muito longo, como por exemplo, a crença de que todos os problemas apresentados na prática pelas suas teorias se devem a que estas não foram bem aplicadas ainda. Também tem aquela de que se você é contra uma de suas ideias tem que apontar alternativa, mas a “alternativa” tem que levar aos mesmos objetivos, ou seja, tem que ser uma maneira diferente de fazer o mesmo proposto por eles.

Quando os Estados Unidos naufragou com o No Child Left Behind, o presidente Bush, pai do programa, deu uma entrevista dizendo que ele havia sido aplicado pela metade e que havia faltado mais testes e mais responsabilização. Quando a Argentina naufragou com o neoliberalismo, os defensores disseram que ela não havia feito a lição de casa direito. E por aí vai. Um reformador é antes de tudo guiado pela fé.

Agora os jornais Folha de SP e Estadão, arautos dos reformadores empresariais, começaram a criticar o ENEM – e até estão fazendo uso de uma análise do próprio INEP.

Antes da “versão vestibular” do ENEM, ele destinava-se somente a avaliar o ensino médio. Com o atrelamento do ENEM ao ingresso dos estudantes nas Universidades, o exame começou a ter que servir a dois senhores: como avaliação do ensino médio e como vestibular para a Universidade. Foi criticado por isso, mas não adiantou. Agora, os arautos dos reformadores aceitaram parcialmente a crítica e a estão repercutindo com atraso de anos em suas mídias. Por que será?

Falam até em estreitamento curricular. É um fenômeno bem descrito na pesquisa educacional o efeito do “estreitamento curricular” gerado pelos exames. Já tratei disso aqui e há até uma seção neste blog que reúne a literatura disponível sobre isso. A Folha de SP menciona este efeito.

“No plano da política pública, a prova funcionaria como ferramenta de avaliação do ensino médio. Como tal currículo inexiste, todavia, deu-se uma inversão de papéis. O exame ocupou este vácuo, transformando-se na prática, em um guia usado pelas escolas para selecionar o que será ensinado aos alunos.”

Parece que estaríamos todos de acordo com a análise, não é verdade? Engano.

Primeiro, quando os reformadores acham um problema com suas políticas de avaliação e responsabilização, eles não pensam em caminhar na direção frequentemente recomendada pela pesquisa educacional. Não. Eles apenas recuam ao nível do diagnóstico para alargar a base de apoio para em seguida, aprofundar a mesma solução agora com algumas correções. Uma espécie de “versão 2.0” do mesmo.

Segundo, o ENEM com ou sem dupla finalidade não é um bom instrumento nem para avaliar o ensino médio e nem para selecionar para a Universidade. Ele está marcado, entre outras coisas, pela necessidade de responsabilizar e não de avaliar. Toda a teoria da avaliação é contra decisões que afetam a vida das pessoas baseadas em uma única medida – ainda mais uma prova de múltipla escolha. Só isso seria suficiente para o governo e o INEP ficarem vermelhos ao pôr em prática esta sistemática.

Terceiro, como já disse por aqui, o ENEM é um atentado ao consumidor, digno de se acionar o Procon, se pudéssemos. Não são divulgados dados que mostrem a “saúde da produção do instrumento”. E no entanto estamos excluindo jovens das Universidades por centésimos nas notas classificatórias para ingresso na Universidade. Mais vergonha. O ENEM é uma verdadeira bomba relógio.

Quarto, o ENEM tem um tom de exame voluntário que incomoda os reformadores. Para eles deveria ser obrigatório e considerado como condição para concluir o ensino médio e receber o diploma. Até Haddad andou acreditando nisso quando passou pelo Ministério.

Quinto, qualquer que seja o exame, com ou sem currículo estabelecido, produzirá o efeito do estreitamento curricular. Mas não é isso que incomoda os reformadores. O que está de fato incomodando é que eles querem rever o currículo do ensino médio porque querem alinhar o ensino médio com a necessidade empresarial de aumentar a produtividade do trabalhador brasileiro. E agora, lembraram-se desta crítica para ampliar a base de descontentamento e justificar a proposta de Currículo Nacional Comum que está em discussão no país.

Ora, mesmo que se redefina o atual currículo, um exame como o ENEM não vai dar conta de incluir todo o conteúdo que é ensinado no ensino médio. Continuará a fazer escolhas sobre o que avaliar e continuará a produzir estreitamento curricular nas escolas. Mas, note, se o “currículo for bom” – ou seja, contiver o aval dos reformadores – então acreditam que o estreitamento curricular pode ser positivo.

Sexto, note-se a sutileza da crítica feita pela mídia. Nenhuma palavra é dita contra o INEP e até sua nota técnica sobre certificação  passa, agora, a ser sábia. Isso se deve a que o atual presidente do INEP está próximo do pensamento dos reformadores e portanto é uma pessoa crível para a mídia. Fala-se até em autonomia do órgão frente ao MEC, curiosamente alardeada também pelo Estadão durante as eleições.  A crítica, então, vai sendo dirigida “ao governo” e não ao INEP. Bem feito – quem sabe o governo aprende.

Ou seja, a crítica da mídia ao ENEM pode sugerir unanimidade, mas não é bem assim.

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SOBRE A CARTA DA ANPED EM REPÚDIO À AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA DAS HABILIDADES NÃO COGNITIVAS DE CRIANÇAS E JOVENS

Sobre a Carta da ANPED em repúdio à avaliação em larga escala das habilidades não cognitivas de crianças e jovens no Brasil

Maria Susley Pereira

 

Ao ler a Carta da ANPEd, fiquei me perguntando: o que “de fato” nosso sistema educacional espera alcançar com a implementação de mais um exame padronizado e, especialmente, esse tipo de prova? Fiquei me questionando também: em que medida nosso sistema de ensino tem se esforçado para que a escola tenha condições de cumprir sua função?

Afinal, o que se espera é que a escola, sabedora de sua função social e de seu papel na formação dos alunos, não se limite aos conteúdos curriculares, bem como tenha consciência de que a aprendizagem desses conteúdos não se faz de forma isolada e é intimamente relacionada ao desenvolvimento das chamadas “habilidades não cognitivas”. Saber conviver, ser cooperativo, crítico, consciente, curioso, saber lidar com as emoções etc. são elementos naturalmente esperados do trabalho da escola.Continue a ler »SOBRE A CARTA DA ANPED EM REPÚDIO À AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA DAS HABILIDADES NÃO COGNITIVAS DE CRIANÇAS E JOVENS

AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA DE HABILIDADES NÃO COGNITIVAS DE CRIANÇAS E JOVENS

CARTA ABERTA À COMUNIDADE ACADÊMICA E AOS REPRESENTANTES DE

SECRETARIAS E ÓRGÃO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SOBRE AVALIAÇÃO

EM LARGA ESCALA DE HABILIDADES NÃO COGNITIVAS DE CRIANÇAS E

JOVENS

A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) vem

manifestar seu repúdio à adoção e a institucionalização de uma avaliação em larga

escala de habilidades não cognitivas de crianças e jovens, no âmbito de iniciativas de

avaliação em larga escala em curso no Brasil.

Trata-se de rejeitar a adoção, como política pública, do programa de medição de

competências socioemocionais, denominado SENNA (Social and Emotional or Noncognitive

Nationwide Assessment), produto de iniciativa do Instituto Ayrton Senna em

parceria com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico).Continue a ler »AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA DE HABILIDADES NÃO COGNITIVAS DE CRIANÇAS E JOVENS

CICLOS E PROGRESSÃO CONTINUADA: DUAS PROPOSTAS DIFERENTES?

CICLOS E PROGRESSÃO CONTINUADA: DUAS PROPOSTAS DIFERENTES?

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Publicado em http://gepa-avaliaçãoeducacional.com.br, em 26/10/2014

Uma reportagem da revista Nova Escola de outubro de 2014 apresenta título interessante e provocativo: Para ensinar, não é necessário reprovar, reprovar e reprovar. O texto aborda a adoção dos ciclos nas diferentes unidades da federação e justifica sua necessidade, mas, como sempre acontece, deixa dúvidas quanto ao que chama de diferença entre ciclos e progressão continuada. Diz a reportagem: “É comum entender a progressão continuada como sinônimo dos ciclos de aprendizagem, já que as duas propostas costumam ser implantadas em conjunto pelas secretarias de educação. E é aí que reside o problema. Em alguns casos, o que recebe o nome de ciclos de aprendizagem nada mais é do que a reunião de algumas séries em grupos distintos, com aprovação automática entre elas. É importante, então, diferenciar as duas propostas: a progressão continuada sugere um processo educativo contínuo e se contrapõe às reprovações, enquanto os ciclos dizem respeito à maneira de organizar o ensino, contrapondo-se ao tradicional sistema seriado. Para que os ciclos funcionem, é preciso haver uma reestruturação completa do currículo escolar, fazendo com que os processos educativos atendam às demandas de aprendizagem dos alunos em cada etapa maior”.Continue a ler »CICLOS E PROGRESSÃO CONTINUADA: DUAS PROPOSTAS DIFERENTES?